sábado, 21 de fevereiro de 2009


Primeira avaliação


Olha, está sendo muito interessante a experiência de fotografar tudo que consumo. É como uma dose de realidade. As fotos não mentem. Não é que me iluda com relação a minha obesidade, mas no dia-a-dia é relativamente fácil negar o problema ou minimizar a gravidade das possíveis conseqüências.

Também, parece que é bastante comum entre as pessoas com sobrepeso, uma percepção pouco apurada do próprio corpo e das quantidades dos alimentos. Eu tirei fotos minhas hoje, de corpo inteiro, mas não quero publicá-las aqui, pois acho que seria exposição demais. Todavia, sou obesa mesmo. Gordinha é carinhoso! :o )

O instante da foto, o momento preservado de uma cena crucial do processo de alimentar-se, causa um impacto mental, mobiliza psiquicamente, instiga à reflexão. O prato REAL pouco antes de saboreá-lo.

Por que a fotografia teria esse poder?

Imagino que por três fatores principais:
  1. O "fotógrafo" é o autor da imagem, a foto é de importância pessoal. Ao tirar a foto, o olhar se fixa no objeto importante (o alimento), avalia sua forma, cores, texturas, seu tamanho e quantidade, sabores, suas possíveis calorias, se é gorduroso ou não, se irá lhe fazer bem ou não, sua posição no prato e em relação à mesa, etc. Nesses breves instantes, o fotógrafo se depara com a realidade deste objeto - que se reapresenta na tela digital - e medita sobre ele. Claro, tudo isso se passa muito mais de forma semiconsciente, mas de maneira significativa, intensa.
  2. A imagem obtida é disponibilizada para outras pessoas. Os outros representam aqui a Sociedade, com seus valores e imposições. Esse olhar do Outro pode ser entendido como um ego auxiliar na tarefa de resistir aos exageros ou um superego auxiliar, reprovando as condutas inadequadas. A fotografia permite o olhar do outro sobre meu comportamento. O outro vê o que comi. Claro, sou eu quem permite isso, mas ainda assim existe o possível constrangimento diante da reprovação social. A ameaça dessa reprovação, ainda que o grau dessa ameaça seja espelho de meu próprio rigor reprobatório, é um forte inibidor do comportamento considerado impróprio.
  3. As imagens permitem uma documentação do comportamento alimentar na sucessão do tempo e permitem uma contínua revisão da própria conduta. Então, a reflexão se dá não apenas no instante de produzir a foto, mas posteriormente, por várias vezes, como ao se rever os alimentos servidos, gravados na máquina digital, ao se transferir os arquivos de imagem para o computador, e ao se publicar e comentar as fotos aqui. Sem esse processo, não haveria o frequente lembrete das escolhas alimentares. É um reforço à autoconsciência e um convite a uma constante auto-avaliação.
Não tenho idéia de como evoluirá essa experiência, não faço promessas a mim mesma, mas estou gostando desse primeiro dia, considero que a experiência está mexendo positivamente comigo.


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